"Hoje eu quero ver a cor explodindo no quadro!" exclama Seoane em extravasamento artístico.
E sua obra é rica de cores e mais cores, vibrantes todas elas, produto de misteriosa alquimia manipulada. A cor não tem mais segredo para Seoane, que redescobre gamas inusitadas em efeitos sutis. E o triunfo colorido em mil sutilezas em oriental filigramática derrama-se por inteiro em suas telas. O "Leit Motiv" do artista é a floresta amazônica, solene, rica em mistério com os seus pássaros e peixes fantasmagóricos, e tudo ao som do 5o. Movimento das Bachianas de Villa Lobos. Seoane é um caso na pintura nacional. Rompeu com todos os convencionalismos e só tem um compromisso: O Mundo dos Sonhos. Tarsila do Amaral |

Quando entrei no estúdio de Seoane e vi suas últimas pinturas, tive a impressão de estar de repente perdido e já enfeitiçado no meio duma floresta tropical fantasticamente colorida e paradoxalmente cheia de sol.
Afirma o artista - e eu não tenho razão para duvidar de sua sinceridade - que pintou essa telas inspirado nas bachianas números 2 e 5 de Villa Lobos. Não obstante, estou certo de que ele teria produzido esse mesmo tipo de pintura mesmo que nunca em sua vida tivesse ouvido siquer uma frase musical do famosos compositor brasileiro. É realmente uma idéia fascinante interpretar música em termos plásticos, dando às melodias forma e cor, e especialmente procurando capturar e prender nos limites de um quadro o espírito duma peça musical. Mussorgsky não tentou descrever musicalmente as pinturas duma exposição?
Eu, que nunca tinha visto antes uma tela de Seoane fiquei impressionado com duas coisas: seu artesanato de alta qualidade e o caráter sério com que os realiza.
Considero-me um pintor frustrado que, por absoluta falta de talento para pintar com pincéis e tinta, contenta-se com pintar com palavras. E agora aqui estou sem saber como descrever as pinturas de Seoane. Se eu fosse um botânico ou um ornitólogo, na certa estaria sério e intrigado diante desses pássaros que parecem flores e dessas flores que parecem pássaros. Será que o artista quis representar simbolicamente a selva tropical de sua terra? Esta explicação seria demasiadamente convencional, além de estreita. Acho que Seoane, levado por uma espécie de hubris artístico, decidiu recriar o mundo (ou pelo menos uma parte dele) de acordo com sua própria fantasia. Não se pode negar que a flora e a fauna que vemos nessas telas são de sua própria invenção. Poderíamos também dizer que aqui temos uma série de fragmentos cristalizados duma alucinação psicodélica - uma alucinação com método, com a loucura de um Hamlet - mas não me parece que cristalizado seja a palavra exata porque cada uma dessas pinturas tem uma certa qualidade caleidoscópica. A posição de seus elementos parece mudar, de acordo com a posição do observador não só no espaço como também no tempo. Se olharmos para qualquer desses quadros, fecharmos os olhos e depois tornarmos a olhar, teremos a impressão de que seu desenho e suas cores mudaram: os pássaros transformaram-se em flores e plantas, e as flores e plantas transformaram-se em pássaros, insetos, jóias... Se quisermos repetir a experiência, haveremos de descobrir nessas telas toda a sorte de símbolos da vida, do sexo, da terra e do sonho.
Em suma, as pinturas de Seoane são uma festa não só para os olhos como também para a imaginação.
Érico Veríssimo
Afirma o artista - e eu não tenho razão para duvidar de sua sinceridade - que pintou essa telas inspirado nas bachianas números 2 e 5 de Villa Lobos. Não obstante, estou certo de que ele teria produzido esse mesmo tipo de pintura mesmo que nunca em sua vida tivesse ouvido siquer uma frase musical do famosos compositor brasileiro. É realmente uma idéia fascinante interpretar música em termos plásticos, dando às melodias forma e cor, e especialmente procurando capturar e prender nos limites de um quadro o espírito duma peça musical. Mussorgsky não tentou descrever musicalmente as pinturas duma exposição?
Eu, que nunca tinha visto antes uma tela de Seoane fiquei impressionado com duas coisas: seu artesanato de alta qualidade e o caráter sério com que os realiza.
Considero-me um pintor frustrado que, por absoluta falta de talento para pintar com pincéis e tinta, contenta-se com pintar com palavras. E agora aqui estou sem saber como descrever as pinturas de Seoane. Se eu fosse um botânico ou um ornitólogo, na certa estaria sério e intrigado diante desses pássaros que parecem flores e dessas flores que parecem pássaros. Será que o artista quis representar simbolicamente a selva tropical de sua terra? Esta explicação seria demasiadamente convencional, além de estreita. Acho que Seoane, levado por uma espécie de hubris artístico, decidiu recriar o mundo (ou pelo menos uma parte dele) de acordo com sua própria fantasia. Não se pode negar que a flora e a fauna que vemos nessas telas são de sua própria invenção. Poderíamos também dizer que aqui temos uma série de fragmentos cristalizados duma alucinação psicodélica - uma alucinação com método, com a loucura de um Hamlet - mas não me parece que cristalizado seja a palavra exata porque cada uma dessas pinturas tem uma certa qualidade caleidoscópica. A posição de seus elementos parece mudar, de acordo com a posição do observador não só no espaço como também no tempo. Se olharmos para qualquer desses quadros, fecharmos os olhos e depois tornarmos a olhar, teremos a impressão de que seu desenho e suas cores mudaram: os pássaros transformaram-se em flores e plantas, e as flores e plantas transformaram-se em pássaros, insetos, jóias... Se quisermos repetir a experiência, haveremos de descobrir nessas telas toda a sorte de símbolos da vida, do sexo, da terra e do sonho.
Em suma, as pinturas de Seoane são uma festa não só para os olhos como também para a imaginação.
Érico Veríssimo