Seoane tinha uma alma inquieta. Sua imaginação o arrebatava em erupções criativas que, em dado momento, não mais econtraram vazão por meio dos pincéis, tintas e telas. Foi assim que, em meados de 1960, passa a escrever poesias. Sua obra poética, tal qual nas artes plásticas, pode ser melhor compreendida por ciclos - fases da vida do artista em que suas aflições, dores, clamores e amores tomaram o caminho não das telas, mas da literal poesia.
A tão comentada obra poética de Seoane nunca chegou a ser publicada apesar do incentivo de grandes amigos - muitos deles notórios poetas - e, por muitos anos, esteve esquecida, adormecida em meio ao seu acervo bibliográfico nos arquivos particulares da família. Essa obra está em processo de catalogação e edição para ser finalmente lançada em breve.
Para aqueles que estão curiosos acerca dessa face do artista, disponibilizamos aqui um par de poesias. De sua obra poética, há dois poemas que encontraram seu caminho ao grande público em 1965 quando foram publicados respectivamente no Diário da Noite e na Folha de São Paulo:
A tão comentada obra poética de Seoane nunca chegou a ser publicada apesar do incentivo de grandes amigos - muitos deles notórios poetas - e, por muitos anos, esteve esquecida, adormecida em meio ao seu acervo bibliográfico nos arquivos particulares da família. Essa obra está em processo de catalogação e edição para ser finalmente lançada em breve.
Para aqueles que estão curiosos acerca dessa face do artista, disponibilizamos aqui um par de poesias. De sua obra poética, há dois poemas que encontraram seu caminho ao grande público em 1965 quando foram publicados respectivamente no Diário da Noite e na Folha de São Paulo:
Ah! esta incerteza
de saber quem sou... Ah! esta angústia sem direção... Do que sou feito? Como posso mover-me num espaço grande tão pequeno em mim!? Como encontrar-me Neste infinito sem direção... Como repousar no giratório círculo desta escuridão! Durmo em mim e está longe o despertar... Ah! as minhas mãos e estes dez dedos correndo e apertando este meu corpo... Nesta incerteza, nestes gritos nestas dores do mundo de saber quem sou... |
Sobre a porta fechada
meu corpo atravessou o silêncio na divisão do além em quatro espaços de sangue. Quatro espaços de sonho contidos no meu desejo; início de novo dia na sequência do sempre. Colhi o perfil da chuva do rosto da madrugada e o sol ainda escondido no bojo da noite ausente. E estou chegando: eis o dia, --- o meu sorriso e a aurora nascidos no mesmo instante. NILSON SEOANE (do livro em preparo “Canto da Desesperação”) |
Seoane tinha como grandes amigos, admiradores e mestres na esfera das letras, figuras célebres da literatura brasileira, como Manuel Bandeira, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Lygia Fagundes Teles, Ida Laura e muitos outros. Em seu arquivo de correpondências encontramos não só palavras de amizade, mas também alguns tributos a ele rendidos pelos amigos que retribuiam sua admiração pela poesia plástica de Seoane em belas aquarelas literárias:
Das profundezas submarinas
algas azuis
estrelas do mar bipartidas
Chegastes
ao chão
da terra
e a vegetação fantasmagórica
abriu-se
num incêndio floral
para te receber
margaridas cresceram nos pãntanos
papoulas nasceram do sol
corolas rubras vieram de copos de sangue
e até dos vitrais silenciosos
a floração
desabrochou
entre borboletas e pássaros abismais
os homens
fumadores da erva
alucinante da vida
esboçam de leve as figuras
à procura de um gesto
de um riso
de uma dor
e entre eles
surges
com teu mundo deslumbrado
com tuas vivências sentidas
em que tentas arrancar
o mistério da semente
e da germinação
do ser
que nasce informe dentro da noite
e numa explosão
de cores
e de procuras
transforma-se
em ser humano
Ida Laura
algas azuis
estrelas do mar bipartidas
Chegastes
ao chão
da terra
e a vegetação fantasmagórica
abriu-se
num incêndio floral
para te receber
margaridas cresceram nos pãntanos
papoulas nasceram do sol
corolas rubras vieram de copos de sangue
e até dos vitrais silenciosos
a floração
desabrochou
entre borboletas e pássaros abismais
os homens
fumadores da erva
alucinante da vida
esboçam de leve as figuras
à procura de um gesto
de um riso
de uma dor
e entre eles
surges
com teu mundo deslumbrado
com tuas vivências sentidas
em que tentas arrancar
o mistério da semente
e da germinação
do ser
que nasce informe dentro da noite
e numa explosão
de cores
e de procuras
transforma-se
em ser humano
Ida Laura